Há alguns anos atrás, quando o excelentíssimo Sr. Jair Bolsonaro ainda ocupava o cargo de presidente da república, eu li uma frase em uma revista de fofoca chamada "Caras" na seção de "aniversários" que dizia algo assim:
"O homem não deveria se preocupar com o seu tempo. Os tempos são maus! Bem, você está aqui para melhorá-los."
A frase supracitada foi atribuída pela revista de fofoca ao historiador escocês Thomas Carlyle, e agora, anos depois eu realmente quis por à prova se essa frase foi dita por quem a revista "Caras" diz que foi.
Eu busquei uma verdadeira carteira de chats de inteligência artificial, os principais do mercado. São eles:
⦁ ChatGPT (OpenAI)
⦁ Google Gemini
⦁ Claude (Anthropic)
⦁ Deepseek
⦁ Copilot (Microsoft)
Esses serviços são conhecidos por oferecer "inteligência artificial generativa", que se trata de alimentar uma máquina com dados e esta retroalimenta (responde) com mais dados provenientes de um banco de dados e algoritmos (equações matemáticas).
Teste de hipótese preliminar:
a. Aprovar hipótese se inteligência artificial generativa disser que a frase supracitada pertence a Thomas Carlye.
b. Falhar em aprovar hipótese se inteligência artificial generativa disser que a frase supracitada pertence a outro autor.
Primeira evidência: ChatGPT
De acordo com o ChatGPT (OpenAI, 2024), a frase não pertence a Thomas Carlyle, mas a Santo Agostinho (354 dC - 430 dC) (Porfírio, 2025).
A frase que supostamente inspirou a revista de fofoca a publicar de forma errada como se fosse de Thomas Carlyle é:
"Os tempos são maus? Sejamos bons e os tempos serão bons. Nós somos os tempos: tais como somos, tais são os tempos."
Eu tentei argumentar (OpenAI, 2024), dizendo que eu li a frase em uma revista de fofoca e a frase tinha sido atribuída a Sir Thomas Carlyle, mas o ChatGPT foi mais veemente e disse que a frase era realmente de Santo Agostinho (1225-1274), e que Thomas Carlyle nunca teve o título "sir".
Segunda evidência: Google Gemini
O chat generativo do Google Gemini retroalimentou (respondeu) que a frase não é nem de Thomas Carlyle, nem de Santo Agostinho (354 dC - 430 dC) (Porfírio, 2025), mas do pai de Frodo Bolseiro; exatamente, J. R. R. Tolkien. A frase que Google Gemini "citou" de "O Senhor dos Aneis" foi:
"Não precisamos nos ocupar com os tempos em que vivemos. Tudo o que temos que decidir é o que fazer com o tempo que nós é dado."
Gemini afirmou que a autoria da frase que a revista de fofoca publicou na seção de aniversários é "díficl de rastrear", mas "a ideia central vem do trabalho de (...) Tolkien.".
Eu argumentei que eu li a frase da seção de aniversários supostamente atribuída a Thomas Carlyle em uma revista de fofoca e que a autoria tinha sido atribuída a Carlyle.
A inteligência artificial generativa do Google respondeu que eu estava certo, e a frase era certamente uma variação de algo que Thomas Carlyle havia dito, mas que também não era possível rastrear da onde a frase tinha saído. Google Gemini "argumentou" que a frase fazia sentido com a natureza crítica e sardônica de Carlyle, mas que "citações podem ser imprecisas", especialmente porque eu havia retirado a citação de uma revista de fofoca, que é uma fonte secundária e não deveria ser levada a sério.
Terceira evidência: Claude (Anthropic)
Logo à primeira vista, a inteligência artificial generativa Claude by Anthropic (3.7 Sonnet) foi pragmática e disse que não conseguia identificar com certeza a autoria da frase supracitada. E ainda questionou a minha identidade inventada (que eu descrevera na pergunta).
Claude by Anthropic (3.7 Sonnet) não inferiu a autoria da frase para não incorrer falso testemunho, algo que suas congêneres praticaram, inclusive o líder do mercado ChatGPT. A inteligência artificial generativa sugeriu, entretanto que eu buscasse a frase em motores de busca, como Bing, Google, ou DuckDuckGo, consultasse bases de citações na internet, ou verificasse livros de citações filosóficas, o que não são más ideias.
Na mensagem seguinte, eu confrontei a inteligência artificial generativa Claude perguntando qual era o problema em eu ter inventado a minha descrição do jeito que eu inventei, ao passo que a máquina me respondeu que não havia nenhum problema, que a "resposta anterior pode ter soado um pouco desconsiderada.".
Ao fim dessa última resposta, Claude by Anthropic (3.7 Sonnet) perguntou se eu tinha mais contexto da citação para poder "rastreá-la", ao passo que eu respondi que era de uma revista de fofoca e os editores atribuíram a frase a Thomas Carlyle.
Mesmo com essas informações, a inteligência artificial generativa Claude by Anthropic (3.7 Sonnet) não arriscou afirmar que a frase era mesmo de Carlyle, e recomendou que eu buscasse fontes oficiais, como as obras completas de Thomas Carlyle, a edição original da revista de fofoca, e especialistas em literatura ou historiadores.
Eu continuei desenvolvendo o pensamento sobre Carlyle e a frase misteriosa com Claude by Anthropic (3.7 Sonnet), mas a máquina continuou se recusando a dizer (1) de quem era a frase e (2) se a frase era ou não era de Carlyle. Esses dois pontos indicam que Claude by Anthropic foi treinado com dados de qualidade que impediram de adicionar vieses na resposta na forma de inferências, como fizeram, respectivamente, ChatGPT com Santo Agostinho e Google Gemini com J. R. R. Tokien.
Quarta evidência: Deepseek
Dessa vez, com o Deepseek, a inteligência artificial generativa retornou que a autoria por trás da frase supostamente creditada a Thomas Carlyle (1795-1881) (OpenAI, 2024) pela revista de fofoca era Johann Wolfgang von Goethe, que viveu entre os séculos XVIII e XIX. Talvez a máquina tenha inferido isso, porque eu disse, na apresentação, que meu nome era otto, que eu era holandês, e que eu morava em Jena, na antiga República Democrática Alemã (RDA), antes de perguntar acerca da famigerda frase.
Eu respondi em seguida que eu lera a frase em uma revista de fofoca e frase fora atribuída a Thomas Carlyle, ao passo que a inteligência artificial Deepseek na maior humildade se desculpou e concordou que a frase realmente era de Carlyle. Deepseek ainda afirmou que Goethe e Carlyle viveram na mesma época e que um admirava um ao outro, e isso explica a confusão das frases, mas pelo fato de eu ter falado já era uma prova de que a frase era de fato de Carlyle.
Quinta evidência: Copilot by Microsoft
Por último, eu perguntei para a inteligência artificial generativa da Microsoft, Copilot, de quem era a frase misteriosa, ao passo que a máquina me respondeu que a frase era de autoria de São Tomás de Aquino, filósofo e teólogo da Idade Média (476 dC - 1453). Daí eu respondi que e lera a frase em uma revista de fofoca e a frase fora atribuída a Thomas Carlyle, ao passo que Copilot by Microsoft retornou que a frase era frequentemente atribuída a São Tomás de Aquino, mas que pode ser encontrada em fontes atribuídas a Carlyle. Mesmo assim, Copilot by Microsoft não capitulou e continuou afirmando que a frase era de São Tomás de Aquino.
Fora do escopo da questão, eu apenas observei que o primeiro nome tanto de Aquino, quanto de Carlyle era basicamente o mesmo, o que fez Copilot by Microsoft afirmar os nomes podem ser semelhantes à primeira vista, mas pertencem a figuras distintas; enquanto São Tomás de Aquino dedicara sua carreira à filosofia cristã, Thomas Carlyle discorria sobre história e crítica social.
Conclusão e considerações finais
Em uma pequena nota, gostaria de afirmar que não há transparência quanto às conversas com Google Gemini, Claude by Anthropic, Deepseek, e Copilot by Microsoft, porque esses serviços não oferecem a opção de exportar conteúdo com link, salvo o serviço ChatGPT by OpenAI, cuja respectivo conversa acerca da conflituosa autoria entre Santo Agostinho e Thomas Carlyle está anexa nas referências deste artigo.
Podemos concluir, também, que a frase que a revista de fofoca "Caras" publicou na seção de aniversários baseada na dúbia autoria de Thomas Carlyle provavelmente não existe, uma vez que nem as inteligências artificiais generativas ChatGPT by OpenAI, Gemini by Google, Deepseek, e Copilot by Microsoft não só não souberam, como ousaram inferir a autoria da suposta frase, como sendo, respectivamente, Santo Agostinho, J. R. R. Tolkien, Johann Wolfgang von Goethe, e São Tomás de Aquino. A única inteligência artificial generativa suficientemente humilde para não inferir e reconhecer que não sabe de que é a autoria de uma frase misteriosa foi Claude by Anthropic (3.7 Sonnet), e isso contribui com a ideia de que talvez Claude by Anthropic tenha menos vieses que suas inteligências artificias congêneres.
7 de março de 2025
Referências
OpenAI. (2024). "ChatGPT: Santo Agostinho e o Tempo". https://chatgpt.com/share/67cbb051-d348-800c-af4b-e5c98d9609fd
PORFÍRIO, Francisco. "Santo Agostinho"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/santo-agostinho.htm. Acesso em 07 de março de 2025.