quinta-feira, 2 de julho de 2020

Funk sem fronteiras (Ensaio)


O funk é um movimento sociocultural que surgiu nos anos 1960, nos Estados Unidos, como uma vertente da música “soul” e do “rhythm and blues” – gêneros populares entre a população negra. Seus “fundadores” foram James Brown e George Clinton. As principais características do funk “fecundo” eram o ritmo sincopado e as batidas de tambor, além de melodias ritmadas.
O funk chegou ao Brasil nos anos 1970 e se fundamentou nos anos 1980, mas ainda com a premissa de traduzir letras vindas “de fora”.
Nos anos 90, inspirados pelo “batidão” Miami Bass, DJs brasileiros criaram suas próprias músicas, alguns ficando anos nas paradas musicais.
Com o tempo, o funk no Brasil foi modificando-se, até perder suas essências do Centro-Oeste norte americano, e encontrar uma nova identidade.
É possível “catalogar” o funk brasileiro em vários tipos, como por exemplo, o “carioca” (tradicional, do Rio de Janeiro); “ostentação” (ou “paulista”), em que o cantor “esbanja” bens materiais caros; “consciente”, com críticas sociais; “pop”, das pistas para o mundo; e “proibidão”, com letras polêmicas, machistas, sexistas, racistas, ou que incitem o ódio.
O funk no Brasil foi nacionalizado, isto é, assimilado para dentro de si. No entanto, não é a primeira vez que isso acontece.
Nos anos 1920, a dupla de intelectuais, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, inspirados no “Manifesto Futurista” do italiano Fellippo Marinetti (que falava em “reconstruir a Itália” e inspirou os desejos fascistas de Benito Mussolini), escreveram seu próprio manifesto, o “Manifesto Antropofágico”. A antropofagia para Andrade e Amaral seria assimilar a cultura de outros povos, sem copiar (por isso o “funk traduzido” não deu certo).
Nos tempos das grandes navegações, tínhamos em nossas terras índios antropófagos que queriam comer os estrangeiros, como foi o caso dos tupiniquins e dos tupinambás, que raptaram Hans Staden em Bertioga. Além disso, os índios Caetés devoraram o primeiro missionário no Brasil, d. Pero Sardinha, evidência de que os índios brasileiros praticavam antropofagia, não importa a tribo.
Outra manifestação nacionalista de assimilação cultural no Brasil se deu em 1970 (1968, para ser mais preciso), quando outra dupla, Gilberto Gil e Caetano Veloso, “fundaram” o primeiro grupo musical que usava guitarra elétrica. Juntaram-se a eles Gal Costa, Os Mutantes, Tom Zé e outros artistas.
O grupo musical chamava-se “Tropicália” e consistia em “pegar” o que havia de melhor no Brasil e transformar em música. Em plena ditadura militar. Não deram cinco anos e o grupo estava desfeito, porque Gil e Veloso foram exilados do país.
De acordo com Stuart Hall, em “A identidade cultural na pós-modernidade”, “Ernest Renan disse que três coisas constituem o princípio espiritual da unidade de uma nação [...], memórias do passado, o desejo por viver em conjunto, a perpetuação da herança” (Hall, p. 34).
Seja como for, o funk de James Brown da década de 1960, nos Estados Unidos, não é o mesmo funk que toca nos bailes das comunidades ao redor do Brasil. Isso porque o brasileiro “canibalizou” o funk estrangeiro, adaptando-o para sua cultura e sociedade. Desse modo, os Estados Unidos têm a sua música e o Brasil também, sem precisar copiar ou ser redundante.

(28 de Novembro de 2019)

Trabalho escolar – Identidade e culturas contemporâneas
Matheus Addor

Apêndice: O funk através das décadas

I feel good (James Brown) - anos 1960



Celebration (Kool and the Gang) - anos 1970/80



Hey ya! (Outkast) - anos 90



Splish splash (Roberto Carlos) - exemplo de "funk traduzido"



Ela partiu (Tim Maia) - um dos primeiros funks brasileiros



Ela só pensa em beijar (MC Leozinho) - anos 2000 (exemplo de funk pop)



Dança do quadrado (vários artistas) - anos 2000 (funk pop)



Glamurosa (MC Marcinho) - anos 2000 (funk pop)



Ela é top (MC Bola) - anos 2010 (exemplo de funk pop)



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