O
funk é um movimento sociocultural que surgiu nos anos 1960, nos Estados Unidos,
como uma vertente da música “soul” e do “rhythm and blues” – gêneros populares
entre a população negra. Seus “fundadores” foram James Brown e George Clinton.
As principais características do funk “fecundo” eram o ritmo sincopado e as batidas
de tambor, além de melodias ritmadas.
O
funk chegou ao Brasil nos anos 1970 e se fundamentou nos anos 1980, mas ainda
com a premissa de traduzir letras vindas “de fora”.
Nos
anos 90, inspirados pelo “batidão” Miami Bass, DJs brasileiros criaram suas
próprias músicas, alguns ficando anos nas paradas musicais.
Com
o tempo, o funk no Brasil foi modificando-se, até perder suas essências do
Centro-Oeste norte americano, e encontrar uma nova identidade.
É
possível “catalogar” o funk brasileiro em vários tipos, como por exemplo, o
“carioca” (tradicional, do Rio de Janeiro); “ostentação” (ou “paulista”), em
que o cantor “esbanja” bens materiais caros; “consciente”, com críticas
sociais; “pop”, das pistas para o mundo; e “proibidão”, com letras polêmicas,
machistas, sexistas, racistas, ou que incitem o ódio.
O
funk no Brasil foi nacionalizado, isto é, assimilado para dentro de si. No
entanto, não é a primeira vez que isso acontece.
Nos
anos 1920, a dupla de intelectuais, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral,
inspirados no “Manifesto Futurista” do italiano Fellippo Marinetti (que falava
em “reconstruir a Itália” e inspirou os desejos fascistas de Benito Mussolini),
escreveram seu próprio manifesto, o “Manifesto Antropofágico”. A antropofagia
para Andrade e Amaral seria assimilar a cultura de outros povos, sem copiar
(por isso o “funk traduzido” não deu certo).
Nos
tempos das grandes navegações, tínhamos em nossas terras índios antropófagos
que queriam comer os estrangeiros, como foi o caso dos tupiniquins e dos
tupinambás, que raptaram Hans Staden em Bertioga. Além disso, os índios Caetés devoraram
o primeiro missionário no Brasil, d. Pero Sardinha, evidência de que os índios
brasileiros praticavam antropofagia, não importa a tribo.
Outra
manifestação nacionalista de assimilação cultural no Brasil se deu em 1970
(1968, para ser mais preciso), quando outra dupla, Gilberto Gil e Caetano
Veloso, “fundaram” o primeiro grupo musical que usava guitarra elétrica.
Juntaram-se a eles Gal Costa, Os Mutantes, Tom Zé e outros artistas.
O
grupo musical chamava-se “Tropicália” e consistia em “pegar” o que havia de
melhor no Brasil e transformar em música. Em plena ditadura militar. Não deram
cinco anos e o grupo estava desfeito, porque Gil e Veloso foram exilados do
país.
De
acordo com Stuart Hall, em “A identidade cultural na pós-modernidade”, “Ernest
Renan disse que três coisas constituem o princípio espiritual da unidade de uma
nação [...], memórias do passado, o desejo por viver em conjunto, a perpetuação
da herança” (Hall, p. 34).
Seja
como for, o funk de James Brown da década de 1960, nos Estados Unidos, não é o
mesmo funk que toca nos bailes das comunidades ao redor do Brasil. Isso porque
o brasileiro “canibalizou” o funk estrangeiro, adaptando-o para sua cultura e
sociedade. Desse modo, os Estados Unidos têm a sua música e o Brasil também,
sem precisar copiar ou ser redundante.
(28
de Novembro de 2019)
Trabalho
escolar – Identidade e culturas contemporâneas
Matheus
Addor
Apêndice: O funk através das décadas
I feel good (James Brown) - anos 1960
Celebration (Kool and the Gang) - anos 1970/80
Hey ya! (Outkast) - anos 90
Splish splash (Roberto Carlos) - exemplo de "funk traduzido"
Ela partiu (Tim Maia) - um dos primeiros funks brasileiros
Ela só pensa em beijar (MC Leozinho) - anos 2000 (exemplo de funk pop)
Dança do quadrado (vários artistas) - anos 2000 (funk pop)
Glamurosa (MC Marcinho) - anos 2000 (funk pop)
Ela é top (MC Bola) - anos 2010 (exemplo de funk pop)
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